Matemática péssima

   Estava perfeitamente de acordo com o escrupuloso apóstolo Pedro buscar alguma fórmula matemática da graça. "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim?", perguntou ele a Jesus. "Até sete vezes?" Pedro estava sendo cautelosamente magnânimo, pois os rabinos de sua época haviam sugerido três como o número máximo de vezes que se poderia esperar o perdão de alguém.

   "Eu lhe digo: Não até sete, mas até setenta vezes sete", replicou-lhe Jesus de imediato.

   A pergunta de Pedro provocou mais uma das incisivas histórias de Jesus, envolvendo um servo por algum motivo, acumula uma dívida de vários milhões de dólares. O fato de que, na realidade, nenhum servo poderia acumular uma dívida tão grande enfatiza a ideia de Jesus: confiscar a família do servo, seus filhos e toda a sua propriedade não reduziria consideravelmente a dívida a ser abatida. Ela é imperdoável. Todavia, o rei, tomado de compaixão, inesperadamente cancela a dívida e permite que o servo se safe sem pagar nada. 

   Quanto mais reflito sobre as parábolas de Jesus, tanto mais me sinto tentado a usar a palavra "péssima" para descrever a matemática do evangelho. Acredito que Jesus nos deixou essas histórias sobre a graça para nos induzir a evitar por inteiro nosso mundo toma lá da cá da ausência da graça e a entrar no reino da graça infinita de Deus. Como bem diz Miroslav Volf: "A economia da graça imerecida tem primazia em relação à economia dos méritos morais".

   Do jardim de infância em diante, aprendemos como obter êxito no mundo onde não existe a graça. Deus ajuda a quem cedo madruga. Para ganhar é preciso penar. Ninguém come de graça. Exija seus direitos. Pagou, levou, Conheço bem essas regras porque vivo de acordo com elas. Trabalho pelo que ganho; gosto de vencer; exijo meus direitos. Quero que as pessoas recebam o que merecem - nem mais, nem menos.

   Todavia, se eu me der ao trabalho de ouvir, vou perceber um forte sussurro provindo do evangelho dizendo que não recebi o que merecia. Merecia castigo e recebi perdão. Merecia ira e recebi amor. Merecia a prisão do devedor e, em vez disso, recebi um cadastro de crédito sem restrições. Merecia censuras severas e arrependimento expresso de joelhos e recebi um banquete preparado pra mim.

{Extraído do livro "Sinais da graça" - Philip Yancey}

Bem queridos loucos, esse textinho falou muito ao meu coração e me fez queimar meus neurônios pra gerar mudança em mim. Às vezes a gente tenta medir, teorizar, dimensionar a graça. Mas é favor imerecido, não existe nada que façamos que resulte em Deus nos amar mais ou menos. Nossa dívida era impagável, imperdoável, mas Ele pagou com Seu sangue precioso, nos perdoou. E nós, o que temos feito com o perdão que recebemos? Temos omitido ou temos compartilhado o que de graça nos foi dado? A matemática do Reino não é lógica, quanto mais eu dou, mas eu tenho. Quando perco, eu ganho. Isso parece loucura? Mas é... que o Jesus que vira a gente às avessas nos faça amar gente, como Ele ama GENTE e nos ajude a parar de tentar achar teorias para a graça. Vivemos por graça e amemos MAIS, nos doemos MAIS, perdoemos MAIS por esta mesma graça.

Na graça infinda que me virou às avessas,

Paula C.